sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


Contatos do escritor Victor Hugo com espíritos são tema de exposição em Paris


ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
Fonte: Folhaonline

Em 1852, o escritor francês Victor Hugo (1802-1885), autor de livros como "Os Miseráveis" e um dos maiores poetas de todos os tempos, exilou-se na ilha de Jersey, entre a França e a Inglaterra, por motivos políticos.

Ali, viveu um episódio muito controverso da história cultural francesa.

Divulgação
Ectoplasma sai da boca de mulher em sessão mediúnica de 1918
Ectoplasma sai da boca de mulher em sessão mediúnica de 1918

Realizou, entre 1853 e 1855, inúmeras sessões de mesa falante (ou girante), a fim de se comunicar com espíritos --com sua filha Léopoldine, que havia morrido aos 19 anos, em 1843, afogada no Sena, mas também com William Shakespeare (1564-1616) e Dante (1265-1321).

Essa experiência é tema de uma interessantíssima exposição em cartaz (até 20 de janeiro) no museu Maison de Victor Hugo, em Paris: "Entrée des Médiums - Spiritisme et Art d'Hugo à Breton".

O título, "Entrada dos Médiuns", vem de um texto do escritor André Breton (1896-1966), líder do surrealismo, movimento literário e artístico que se interessou pelos fenômenos mediúnicos e chamou a atenção para a obra de médiuns-pintores.

PARANORMAIS

A primeira parte da mostra trata das relações de Hugo e sua família com o espiritualismo, expondo desenhos do poeta, fotos feitas por seu filho (e principal médium) Charles Hugo, além de manuscritos com as transcrições de mensagens colhidas na mesa falante de Jersey.

A segunda e a terceira partes trazem trabalhos de artistas-médiuns e de médiuns-artistas, todos eles pouco conhecidos e em geral classificados como "art brut", tais como Fernand Desmoulin (1853-1914), Victorien Sardou (1831-1908) e Hélène Smith (1861-1929), por exemplo.

O principal interesse da sessão sobre a metapsíquica (corrente de estudos criada pelo cientista Charles Richet com a finalidade de pesquisar fenômenos paranormais) é a série de fotos da médium Marthe Béraud expelindo ectoplasmas (materializações de espíritos).

As imagens são extraordinárias, "verdadeiras esculturas conceituais", nas palavras de Gérard Audine, diretor do museu.

As relações intensas, mas pouco ortodoxas, dos surrealistas com a metapsíquica, a vidência e o espiritismo concluem a mostra, com obras de Robert Desnos (1900-1945), André Masson (1896-1987), Yves Tanguy  (1900-1955) e outros.

Além de incomum, a exposição é audaciosa por abordar temas e crenças que sempre são tratados com muita discrição na França --pátria de Voltaire (1694-1778), mas também de Allan Kardec (1804-1869).

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Manuscritos do Mar Morto com mais de 2 milênios são publicados on-line


18. Dezembro 2012 - 14:19
Milhares de manuscritos do Mar Morto, que datam de mais de dois milênios, foram fotografados e a partir de agora podem ser consultados na internet, anunciou nesta terça-feira a Autoridade de Antiguidades israelense.

Entre esses manuscritos, figuram fragmentos dos pergaminhos mais antigos do Antigo Testamento descobertos até agora, em particular os Dez Mandamentos, do capítulo 1 do Gênese, até os Salmos e o Livro de Isaías, em sua integralidade e textos apócrifos.

As técnicas mais modernas de tratamento da imagem, desenvolvidas principalmente por especialistas da Nasa, foram utilizadas para arquivar e tirar do anonimato o conjunto dos milhares de fragmentos de manuscritos até agora pouco acessíveis ao grande público devido a sua fragilidade.

Os procedimentos empregados permitirão também analisar melhor o estado de conservação desses documentos, que datam do terceiro ao primeiro século de nossa era. O lugar onde foram encontrados os rolos do Mar Morto, considerados uma das descobertas arqueológicas mais importantes do século XX, foi localizado por acaso por um pastor de cabras em 1947, em Qumran, em uma gruta perto do Mar Morto na Cisjordânia.

Os documentos mais antigos remontam ao século III antes de Cristo e o mais recente foi redigido no ano 70, no momento da destruição do segundo Templo judeu por legiões romanas.

A maioria desses documentos estão conservados no Museu de Israel, em Jerusalém, e alguns foram apresentados no exterior, mas sua fragilidade limita sua manipulação e sua exposição à luz.
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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Tempo histórico

Assim como podemos contar o tempo através do tempo cronológico, usando relógios ou calendários, temos ainda outros tipos de tempo: o tempo geológico, que se refere às mudanças ocorridas na crosta terrestre, e o tempo histórico que está relacionado às mudanças nas sociedades humanas.
O tempo histórico tem como agentes os grupos humanos, os quais provocam as mudanças sociais, ao mesmo tempo em que são modificados por elas.
O tempo histórico revela e esclarece o processo pelo qual passou ou passa a realidade em estudo. Nos anos 60, por exemplo, em quase todo o Ocidente, a juventude viveu um período agitado, com mudanças, movimentos políticos e contestação aos governos. O rock, os hippies, os jovens revolucionários e , no Brasil, o Tropicalismo (Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, entre outros) e a Jovem Guarda (Roberto Carlos, Erasmo Carlos, entre tantos outros), foram experiências sociais e musicais que deram à década de 60 uma história peculiar e diferente dos anos 50 e dos anos 70.
Isto é o tempo histórico: traçamos um limite de tempo para estudar os seus acontecimentos característicos, levando em conta que, naquele momento escolhido, muitos seres humanos viveram, sonharam, trabalharam e agiram sobre a natureza e sobre as outras pessoas, de um jeito específico.
A história não é prisioneira do tempo cronológico. Às vezes, o historiador é obrigado a ir e voltar no tempo. Ele volta para compreender as origens de uma determinada situação estudada e segue adiante ao explicar os seus resultados.

A contagem do tempo histórico

O modo de medir e dividir o tempo varia de acordo com a crença, a cultura e os costumes de cada povo. Os cristãos, por exemplo,  datam a história da humanidade a partir do nascimento de Jesus Cristo. Esse tipo de calendário é utilizado por quase todos os povos do mundo, incluindo o Brasil.
O ponto de partida de cada povo ao escrever ou contar a sua história é o acontecimento que é considerado o mais importante.
O ano  de 2008, em nosso calendário, por exemplo, representa a soma dos anos que se passaram desde o nascimento de Jesus e não todo o tempo que transcorreu desde que o ser humano apareceu na Terra, há cerca de quatro milhões de anos.
Como podemos perceber, o nascimento de Jesus Cristo é o principal marco em nossa forma de registrar o tempo. Todos os anos e séculos antes do nascimento de Jesus são escritos com as letras a.C. e, dessa maneira, então 127 a.C., por exemplo, é igual a 127 anos antes do nascimento de Cristo.
Os anos e séculos que vieram após o nascimento de Jesus Cristo não são escritos com as letras d.C., bastando apenas escrever, por exemplo, no ano 127.
           
O uso do calendário facilita a vida das pessoas. Muitas vezes, contar um determinado acontecimento exige o uso de medidas de tempo tais como século, ano, mês, dia e até mesmo a hora em que o fato ocorreu. Algumas medidas de tempo muito utilizadas são:
  • milênio: período de 1.000 anos;
  • século: período de 100 anos;
  • década: período de 10 anos;
  • qüinqüênio: período de 5 anos;´
  • triênio: período de 3 anos;
  • biênio: período de 2 anos (por isso, falamos em bienal).

Entendendo as convenções para contagem de tempo

Para identificar um século a partir de uma data qualquer, podemos utilizar operações matemáticas simples. Observe.
  • Se o ano terminar em dois zeros, o século corresponderá ao (s) primeiro (s)algarismo (s) à esquerda desses zeros. Veja os exemplos:

                                   ano 800: século VIII
                                   ano 1700: século XVII
                                   ano 2000: século XX
  • Se o ano não terminar em dois zeros, desconsidere a unidade e a dezena, se houver, e adicione 1 ao restante do número, Veja:

                                   ano 5:               0+1= 1                       século I
                                   ano 80:             0+1= 1                       século I
                                   ano 324           3+1=4                         século IV
                                   ano 1830         18+1=19                     século XIX
                                   ano 1998         19+1=20                     século XX
                                   ano 2001         20+1=21                     século XXI

Fonte:  http://www.sohistoria.com.br

sábado, 13 de outubro de 2012

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Associação Nacional de História (ANPUH) responde à crítica da Revista Veja sobre Hobsbawm


 

Associação Nacional de História (ANPUH) responde à crítica da Revista Veja sobre Hobsbawm

Em nota, entidade afirma que Veja teria reduzido historiador a um "idiota moral"
A nota de repúdio foi publicada no perfil da entidade no último sábado. Confira, na íntegra, o texto da Associação Nacional de História, que teve como título, "Hobsbawm: Um dos maiores intelectuais do século XX".

"Na última segunda-feira, dia 1 de outubro, faleceu o historiador inglês Eric Hobsbawm. Intelectual marxista, foi responsável por vasta obra a respeito da formação do capitalismo, do nascimento da classe operária, das culturas do mundo contemporâneo, bem como das perspectivas para o pensamento de esquerda no século XXI. Hobsbawm, com uma obra dotada de rigor, criatividade e profundo conhecimento empírico dos temas que tratava, formou gerações de intelectuais. Ao lado de E. P. Thompson e Christopher Hill liderou a geração de historiadores marxistas ingleses que superaram o doutrinarismo e a ortodoxia dominantes quando do apogeu do stalinismo. Deu voz aos homens e mulheres que sequer sabiam escrever. Que sequer imaginavam que, em suas greves, motins ou mesmo festas que organizavam, estavam a fazer História. Entendeu assim, o cotidiano e as estratégias de vida daqueles milhares que viveram as agruras do desenvolvimento capitalista. Mas Hobsbawm não foi apenas um “acadêmico”, no sentido de reduzir sua ação aos limites da sala de aula ou da pesquisa documental. Fiel à tradição do “intelectual” como divulgador de opiniões, desde Émile Zola, Hobsbawm defendeu teses, assinou manifestos e escolheu um lado. Empenhou-se desta forma por um mundo que considerava mais justo, mais democrático e mais humano. Claro está que, autor de obra tão diversa, nem sempre se concordará com suas afirmações, suas teses ou perspectivas de futuro. Esse é o desiderato de todo homem formulador de ideias. Como disse Hegel, a importância de um homem deve ser medida pela importância por ele adquirida no tempo em que viveu. E não há duvidas que, eivado de contradições, Hobsbawm é um dos homens mais importantes do século XX.
Eis que, no entanto, a Revista Veja reduz o historiador à condição de “idiota moral” (cf. o texto “A imperdoável cegueira ideológica da Hobsbawm”, publicado em www.veja.abril.com.br). Trata-se de um julgamento barato e despropositado a respeito de um dos maiores intelectuais do século XX. Veja desconsidera a contradição que é inerente aos homens. E se esquece do compromisso de Hobsbawm com a democracia, inclusive quando da queda dos regimes soviéticos, de sua preocupação com a paz e com o pluralismo. A Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) repudia veementemente o tratamento desrespeitoso, irresponsável e, sim, ideológico, deste cada vez mais desacreditado veículo de informação. O tratamento desrespeitoso é dado logo no início do texto “historiador esquerdista”, dito de forma pejorativa e completamente destituído de conteúdo. E é assim em toda a “análise” acerca do falecido historiador. Nós, historiadores, sabemos que os homens são lembrados com suas contradições, seus erros e seus acertos. Seguramente Hobsbawm será, inclusive, criticado por muitos de nós. E defendido por outros tantos. E ainda existirão aqueles que o verão como exemplo de um tempo dotado de ambiguidades, de certezas e dúvidas que se entrelaçam. Como historiador e como cidadão do mundo. Talvez Veja, tão empobrecida em sua análise, imagine o mundo separado em coerências absolutas: o bem e o mal. E se assim for, poderá ser ela, 

Veja, lembrada como de fato é: medíocre, pequena e mal intencionada."

São Paulo, 05 de outubro de 2012
Diretoria da Associação Nacional de História
ANPUH-Brasil
Gestão 2011-2013

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Morre Eric Hobsbawm, um dos maiores historiadores do século 20

Atualizado em  1 de outubro, 2012 - 10:23 (Brasília) 13:23 GMT
Eric Hobsbawm | Crédito da foto: Getty
Historiador Eric Hobsbawm morreu aos 95 anos em Londres.
Um dos mais influentes historiadores do século 20, o britânico Eric Hobsbawm morreu nesta segunda-feira em Londres aos 95 anos, confirmaram familiares.
Em entrevista à imprensa, a filha de Hobsbawn, Julia, disse que seu pai morreu no início da manhã no Royal Free Hospital, onde ele se tratava de uma pneumonia.
"Sua ausência será imensamente sentida não só por sua esposa de mais de 50 anos, Marlene, por seus três filhos, sete netos e bisnetos, mas também por muitos leitores e estudantes ao redor do mundo", informou um comunicado da família.
A reputação do historiador deve-se, principalmente, a quatro obras escritas por ele, entre elas "Era dos Extremos: o Breve Século 20: 1914 - 1991", livro que foi traduzido em 40 línguas.
De família judia, Hobsbawm nasceu na cidade de Alexandria, no Egito, em 1917, o mesmo ano da Revolução Russa, que representou a derrocada do czarismo e o início do comunismo no país.
Não por coincidência, a vida do historiador e seus trabalhos foram moldados dentro de um compromisso duradouro com o socialismo radical.
O pai de Hobsbawm, o britânico Leopold Percy, e sua mãe, a austríaca Nelly Grün, mudaram-se para Viena, na Áustria, quando o historiador tinha dois anos e, logo depois, para Berlim, na Alemanha.
Hobsbawm aderiu ao Partido Comunista aos 14 anos, após a morte precoce de seus pais. Na ocasião, ele foi morar com seu tio.
Em 1933, com o início da ascensão de Hitler na Alemanha, ele e seu tio mudaram-se para Londres, na Inglaterra. Após obter um PhD da Universidade de Cambridge, tornou-se professor no Birkbeck College em 1947 e, um ano depois, publicou o primeiro de seus mais de 30 livros.
Hobsbawm foi casado duas vezes e teve três filhos, Julia, Andy e Joshua.
Na década de 80, Hobsbawm comentou sobre sua fuga da Alemanha. "Qualquer um que viu a ascensão de Hitler em primeira mão não poderia ter sido ajudado, mas moldado por isso, politicamente. Esse garoto ainda está aqui dentro em algum lugar - e sempre estará".

Obra

Entre as obras mais conhecidas de Hobsbawm, estão os três volumes sobre a história do século 19 e "Era dos Extremos", que cobriu oito décadas da Segunda Guerra Mundial ao colapso da União Soviética.
Já como presidente do Birkbeck College, ele publicou seu último livro, "Como mudar o mundo - Marx e o marxismo 1840-2011", no ano passado.
O historiador afirmou que ele tinha vivido "no século mais extraordinário e terrível da história humana".
Marxista inveterado, ele reconheceu a derrocada do comunismo no século 20, mas afirmou não ter desistido de seus ideais esquerdistas.
Em abril deste ano, Hobsbawm disse ao colega historiador Simon Schama que ele gostaria de ser lembrado como "alguém que não apenas manteve a bandeira tremulando, mas quem mostrou que ao balançá-la pode alcançar alguma coisa, ao menos por meio de bons livros".

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Papiro que cita mulher de Jesus é falsificação moderna, diz estudioso
21 de setembro de 2012 19h55 atualizado às 20h01

O papiro foi apresentado pela professora Karen King, de Harvard. Foto: Karen L. King/Harvard University/Divulgação O papiro foi apresentado pela professora Karen King, de Harvard
Foto: Karen L. King/Harvard University/Divulgação

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Um estudioso do Novo Testamento diz ter encontrado evidências de que o chamado "Evangelho da Mulher de Jesus" é uma falsificação moderna. O professor Francis Watson, da Universidade de Durham, diz que o fragmento de papiro que causou polêmica ao surgir no início desta semana, por se referir à suposta mulher de Jesus, é uma colcha de retalhos, e que todos os fragmentos de frases encontrados foram copiados, com algumas alterações, de edições impressas do Evangelho de Tomé. As informações são do Guardian.

A descoberta já acendeu um debate feroz entre os acadêmicos, mas o professor acredita que sua nova pesquisa possa ser conclusiva. "Eu creio que é mais ou menos indiscutível que eu demonstrei como a coisa foi composta", argumentou. "Eu ficaria muito surpreso se não fosse uma falsificação moderna, ainda que seja possível que tenha sido composta desta forma no século 4", acrescenta.

O artigo publicado online por Watson afirma que a obra foi montada por alguém que não era um falante ativo da linguagem copta - usada pelos cristãos egípcios durante o império romano -, o que é um jeito educado de dizer que se trata de um trabalho moderno. Ele não critica diretamente a professora Karen King, de Harvard, que apresentou o fragmento em uma conferência em Roma. Watson diz que ela fez um ótimo trabalho em apresentar as evidências e imagens do fragmento. Ele crê que o papiro em si pode datar do século 4, mas as palavras, diz ele, mostram claramente a influência dos livros impressos modernos. Karen afirmou acreditar que o papiro foi criado entre os séculos 2 e 4, mas a data do objeto ainda não foi analisada quimicamente.

Há uma quebra de linha no meio de uma palavra que parece ter sido retirada diretamente de edições modernas do Evangelho de Tomé, um texto genuinamente gnóstico ou cristão. De acordo com o professor, é comum que palavras estejam quebradas no meio em escritas antigas, como a copta, que eram escritas sem hífens. No entanto, é incomum que a ruptura apareça na mesma obra em dois manuscritos diferentes.
A professora Karen ainda não se manifestou sobre o assunto.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Fragmento de texto do século II fala em "mulher de Jesus"
18 de setembro de 2012 18h21 atualizado às 18h47

Cientistas acreditam que fragmento faça parte de evangelho desconhecido. Foto: Karen L. King/Harvard University/Divulgação Cientistas acreditam que fragmento faça parte de evangelho desconhecido
Foto: Karen L. King/Harvard University/Divulgação


Um papiro é a primeira evidência de que os cristãos já acreditaram que Jesus foi casado, segundo um estudo da Harvard Divinity School. A descoberta foi anunciada em um congresso no Institutum Patristicum Augustinianum (do Vaticano) em Roma.

"A tradição cristã afirma que Jesus não foi casado, apesar de não haver nenhuma evidência histórica confiável para suportar essa afirmação", diz Karen King, de Harvard. "Este novo texto não prova que Jesus foi casado, mas nos conta que a questão como um todo apenas veio de um vociferador debate sobre sexualidade e casamento. Os cristãos discordavam sobre se era melhor ou não casar, mas isso foi um século depois da morte de Jesus, depois eles apelaram para o estado conjugal de Jesus para suportar suas posições."

Roger Bagnall, diretor do Instituto de Estudo do Mundo Antigo, em Nova York, acredita que o fragmento seja autêntico, baseado em exames do papiro e da caligrafia. Outros especialistas também acreditam na autenticidade baseados em outros dados, como linguagem e gramática, segundo nota de Harvard desta terça-feira. O objeto ainda vai passar por mais testes, especialmente da composição química da tinta.
Um dos lados do fragmento tem oito linhas incompletas de texto, enquanto o outro está muito danificado e apenas três palavras e algumas letras podem ser vistas - inclusive com infravermelho e processamento da imagem em computador. Karen afirma que o pequeno texto fala sobre assuntos como família, disciplina e casamento dos antigos cristãos.

A pesquisadora e a colega AnneMarie Luijendijk, professora de religião em Princeton, acreditam que o fragmento faça parte de um evangelho desconhecido. Um artigo com resultados do estudo do objeto será publicado em janeiro de 2013 no jornal Harvard Theological Review.

O fragmento faz parte de uma coleção particular cujo dono procurou a pesquisadora para que ela traduzisse o texto. Ele deu a Karen uma carta dos anos 80 do professor Gerhard Fecht, da Universidade Livre de Berlim, na qual ele afirmava acreditar que era uma evidência de um possível casamento de Jesus.

A professora de Harvard disse não acreditar em um primeiro momento (em 2010) que fosse autêntico e disse ao dono que não tinha interesse na análise. Contudo, ele persistiu no contato e, em dezembro de 2011, ela o convidou a levar o objeto a Harvard. Em 2012, ela e Luijendijk levaram o papiro a Bagnall que analisou e disse ser possivelmente autêntico.

Pouco se sabe de sua origem, mas acredita-se ser do Egito, já que está escrito em copta - usado pelos cristãos egípcios durante o império romano. Como há texto dos dois lados, os pesquisadores acreditam que faça parte de um livro, ou códex.

Para motivos de referência, o evangelho do qual supostamente faria parte foi chamado de "Evangelho da Mulher de Jesus". A pesquisadora acredita que ele seja da segunda metade do século II, já que outros evangelhos descobertos recentemente são dessa época. A origem, como dos outros, certamente está atribuída a alguém próximo a Jesus, mas o verdadeiro autor deve ser desconhecido. Eles acreditam ainda que foi escrito originalmente em grego e depois traduzido.

No texto, os cristãos falam de si como uma família, com Deus como pai, seu filho Jesus e membros como irmãos e irmãs. Duas vezes no fragmento, Jesus fala de sua mãe e de sua mulher - sendo que uma das duas ele chama de Maria. Os discípulos discutem se Maria é digna, e Jesus diz que "ela pode ser minha discípula".

Segundo Karen, somente por volta do ano 200 é que foi afirmado, em texto registrado por Clemente de Alexandria, que Jesus não se casou. Na época havia uma discussão se os cristãos deveriam se casar ou viver no celibato. Segundo Clemente, cristãos da época afirmavam que o casamento fora instituído pelo demônio. A pesquisadora afirma que Tertuliano de Cartago, uma ou duas décadas depois, foi quem declarou que Jesus não havia se casado. Ele, contudo, não condenava o casamento - desde que ocorresse apenas uma vez, mesmo em caso de morte de um dos cônjuges.

No final, afirma Karen, a visão dominadora foi a de que o celibato é a mais alta forma de virtude sexual do cristianismo, enquanto permite o casamento, mas apenas para a reprodução. "A descoberta desse novo evangelho oferece uma ocasião para repensar o que achávamos saber ao questionar qual foi o papel que o status conjugal de Jesus teve historicamente nas controvérsias dos cristãos antigos sobre casamento, celibato e família. A tradição preservou apenas aquelas vozes que clamavam que Jesus nunca se casou. O 'Evangelho da Mulher de Jesus' agora mostra que alguns cristãos pensavam de outra forma."

quinta-feira, 16 de agosto de 2012


MEC vai propor a fusão de disciplinas do ensino médio


FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO


O Ministério da Educação prepara um novo currículo do ensino médio em que as atuais 13 disciplinas sejam distribuídas em apenas quatro áreas (ciências humanas, ciências da natureza, linguagem e matemática).


A mudança prevê que alunos de escolas públicas e privadas passem a ter, em vez de aulas específicas de biologia, física e química, atividades que integrem estes conteúdos (em ciências da natureza).

A proposta deve ser fechada ainda neste ano e encaminhada para discussão no Conselho Nacional de Educação, conforme a Folha informou ontem. Se aprovada, vai se tornar diretriz para todo o país.

 


Para o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, os alunos passarão a receber os conteúdos de forma mais integrada, o que facilita a compreensão do que é ensinado.

"O aluno não vai ter mais a dispersão de disciplinas", afirmou Mercadante ontem, em entrevista à Folha.

Outra vantagem, diz, é que os professores poderão se fixar em uma escola.

Um docente de física, em vez de ensinar a disciplina
em três colégios, por exemplo, fará parte do grupo de ciências da natureza em uma única escola.

Ainda não está definida, porém, como será a distribuição dos docentes nas áreas.

A mudança curricular é uma resposta da pasta à baixa qualidade do ensino médio, especialmente o da rede pública, que concentra 88% das matrículas do país.

Dados do ministério mostram que, em geral, alunos das públicas estão mais de três anos defasados em relação aos das particulares.

Educadores ouvidos pela reportagem afirmaram que a proposta do governo é interessante, mas a implementação é difícil, uma vez que os professores foram formados nas disciplinas específicas.

O secretário da Educação Básica do ministério, Cesar Callegari, diz que os dados do ensino médio forçam a aceleração nas mudanças, mas afirma que o processo será negociado com os Estados, responsáveis pelas escolas.

Já a formação docente, afirma, será articulada com universidades e Capes (órgão da União responsável pela área).

Uma mudança mais imediata deverá ocorrer no material didático. Na compra que deve começar neste ano, a pasta procurará também livros que trabalhem as quatro áreas do conhecimento.

Organização semelhante foi sugerida em 2009, quando o governo anunciou que mandaria verbas a escolas que alterassem seus currículos. O projeto, porém, era de caráter experimental.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Descoberta arqueológica feita na Grécia pode pôr em causa a “História da Escrita”
Publicado Segunda-feira, 23 de Julho de 2012 | Por: Jornal de Arqueologia

Em 1993 o Professor George Hourmouziadis e a sua equipa exumaram a designada “Tablet Dispilio” (também conhecida como Disco Dispilio)  num assentamento do Neolítico existente perto da Dispilio, vila moderna junto do  lago Kastoria. 

Tablet Dispilio”- Foto: macedoniaontheweb.com





A  “Tablet Dispilio” trata-se de uma tábua de madeira , com marcas de escrita que foram datadas por carbono 14 em 5260 a.C. Em fevereiro de 2004, aquando do anúncio da descoberta do artefacto, Hourmouziadis afirmou que as marcas de texto não podiam ser divulgadas porque, em última análise, seria alterar o contexto histórico atual que explica as origens da escrita.

As impressões da “Tablet Dispilio”, não se confundem com figuras humanas, com o sol ou com a lua, ou com outras figuras e ideogramas usualmente representados nas antigas manifestações de escrita conhecidas no Médio Oriente.  Segundo o professor de Arqueologia  Pré-Histórica da Universidade Aristóteles de Salónica, as marcas sugerem que a atual teoria que propõe que os antigos gregos receberam o seu alfabeto das civilizações do Médio Oriente (babilonios, sumérios e fenicios, etc.) não explica uma lacuna com cerca de 4.000 anos de história. Esta lacuna leva aos seguintes fatos: enquanto que as antigas civilizações orientais usavam ideogramas para se expressarem por via da escrita, os antigos gregos já utilizavam sílabas de uma maneira similar às que usamos atualmente.

A teoria histórica atualmente aceite em todo o mundo ensina-nos que os antigos gregos aprenderam a escrever por influência dos fenícios, por volta do ano de 800 a.C. No entanto, entre os estudiosos que einvestigam a questão algumas perguntas pertinentes têm vindo a surgir, tais como, por exemplo, como é possível que a língua grega, que tem cerca de 800.000 palavras, ocupe o primeiro lugar entre todas as línguas conhecidas do mundo, enquanto que o segundo idioma tem apenas 250.000 entradas de palavras? E, sobretudo, como é possível que os poemas homéricos tenham sido escritos por volta de 800 aC, que é precisamente quando se estabelece a data em que os antigos gregos aprenderam a escrever?

Seria impossível para os antigos gregos escreverem estas obras poéticas sem terem tido uma história da escrita de pelo menos 10.000 anos, defende uma nova pesquisa linguística. Ora, acontece também que a “Tablet Dispilio”, descoberta por George Hourmouziadis, é 2.000 anos mais velha do que os achados escritos da época suméria e 4.000 anos mais velha do que os tipos lineares de escrita descobertos em Creta e em Micenas.

De acordo com declarações feitas por Hourmouziadis em 1994, as impressões da “Tablet Dispilio”, não se confundem com figuras humanas, com o sol ou com a lua, ou com  outras figuras e ideogramas usualmente representados nas antigas manifestações de escrita conhecidas no Médio Oriente.

Na realidade ela apresenta sinais avançados, indicando que são o resultado de uma experiência longa  e complexa de processos cognitivos.

A tábua foi parcialmente danificada quando exposta sem proteção ao ambiente rico em oxigénio, depois de extraída do ambiente húmido ( lama e água) em que esteve submersa durante um longo período de tempo, mas promete ser o motivoo de acalorada discussão nos próximos tempos, já que se trata de um artefacto arqueológico que poderá pôr em questão a história da escrita que até agora foi ensinada à humanidade. 

Fonte: Greek Reporter

quarta-feira, 18 de julho de 2012

SOBRE A GREVE DAS FEDERAIS - PEDIDO DE APOIO

 "Transmito abaixo e-mail recebido da Professora Ana de Pellegrin da Universidade Federal de Goais, esclarecendo sobre o que está sendo divulgado na mídia sobre a greve das Universidades Federais."


Date: Sun, 15 Jul 2012 22:42:38 -0300
From: adpellegrin@uol.com.br
To: grupo_paideia-l@listas.unicamp.br
CC: br_histedbr@grupos.com.br
Subject: Re: [Paideia] Sobre a greve nas federais - pedido de apoio

caros e caras colegas dos grupos paidéia e histedbr,

muitos de nós fomos formados por estes dois grupos de pesquisa, nos titulamos e prestamos concursos públicos. realizamos o sonho de entrar em uma universidade pública como professores. no momento, enfrentamos uma greve longa e vigorosa, um movimento que abarca quase 100% dos servidores docentes e técnico-administrativos das universidades e institutos federais.

esta mensagem é um pedido de apoio para uma deliberada campanha de "contrainformação". não temos como enfrentar no mesmo nível as emissoras de tv, rádio, os semanários impressos tais como a revista veja e outros. agora, mais que nunca, precisamos que as pessoas saibam o que se passa. é preciso que as pessoas saibam, por exemplo, que não houve precipitação dos professores ao entrarem em greve, uma vez que prazos e acordos foram sucessivamente descumpridos pelo governo. precisamos explicar que o governo não nos concedeu 45% de aumento salarial. precisamos explicar porque a lógica da proposta do governo que deu origem ao movimento grevista é perversa e, no limite, jogará os professores uns contra os outros no dia a dia acadêmico (muito mais que já o fazem as agências de fomento). como emblema desta trágica situação, sugiro a todos que assistam ou reassistam o filme "o corte" (costa gavras). imaginemos o absurdo da cena: professores se matando por uma vaga de titular ou por um edital de financiamento.

voltando ao pedido de apoio, apresento de forma muito resumida as novidades da última semana: 

após o descumprimento de um acordo anteriormente firmado, após o cancelamento de reuniões de negociação por parte do governo, após as tentativas de conversa por parte dos docentes e técnico-administrativos e após as pressões do movimento grevista que não se curvou num período desfavorável como é o mês de julho, finalmente o governo apresentou uma "proposta".

"proposta" vai entre aspas porque é importante que todos saibam como isso se deu. na reunião do último dia 13, em que estiveram presentes representantes do CNG/andes, proifes e sinasefe e representantes do governo (sérgio mendonça, amaro lins, dulce tristão, entre outros), o que o governo trouxe à mesa foram tabelas de remuneração, relativas aos docentes na ativa, tanto da carreira de magistério superior, quanto de educação básica e tecnológica. não havia nenhum documento por escrito, contendo uma proposta, como anunciado. diante da solicitação dos representantes dos trabalhadores, a reunião foi interrompida por 20 minutos e os representantes do governo voltaram com a "proposta" por escrito.

estamos agora em um momento bastante delicado, analisando a "proposta" que configura-se como um apressado rascunho, repleto de armadilhas e imprecisões. para que tenham uma ideia, são inúmeras as passagens em que se lê "a partir de normas a serem expedidas pelo MEC", "a partir de diretrizes a serem estabelecidaspelo MEC"... ou seja, normas e diretrizes que não sabemos quando, como e a partir de quais critérios serão formuladas.  

no entanto, há coisas bastante claras, tal como o percentual de vagas destinado a professores titulares (20%), aqueles que de fato poderão chegar ao topo da carreira e talvez receber o aumento de 45% que vem sendo veiculado pela mídia. um outro dado bastante preciso a destacar é o aumento da carga horária mínima em sala de aula para 12 horas (que fere a própria LDB). por fim, a "proposta" nada diz sobre os servidores aposentados.

o documento ainda faz referência a um "certificado de conhecimento tecnológico" a ser emitido por um suposto conselho permanente de certificação, que representaria um recurso para que os professores ebtt pudessem acelerar a progressão na carreira.

registre-se também o fato de que o governo não apresentou nada na mesa para os servidores técnico-administrativos e não concordou com a solicitação feita pelo sinasefe para que um representante da fasubra participasse da reunião como observador.

como mencionei, estamos em momento de avaliação (em todos os coletivos de docentes do país) e de formulação de contrapropostas. mas não podemos descuidar do que entendemos como "contrainformação". estamos atuando localmente neste sentido, mas também tentando o maior alcance possível via listas de e-mails de grupos, redes sociais etc.

para obter informação sobre o histórico e a origem da greve, sugiro a "visita" ao blog do comando local de greve da ufg e a leitura do comunicado 10:
http://www.greveufg.blogspot.com.br/

anexo ainda a "proposta" do governo em pdf para quem tiver curiosidade.

em tempo: lembro que os representantes do MEC já deixaram bastante claro, nas conversações, que "concordam com muita coisa que os docentes reivindicam", mas que não é o MEC que dá a palavra final. a decisão é do MPOG ou da "alta cúpula do governo". serão aceitos apenas pequenos ajustes. há uma crise internacional em curso.

abraços esperançosos,

Ana de Pellegrin
professora da universidade federal de goiás
(formada pelo programa de pós-graduação da FE)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Karl Marx vira estampa de cartão de crédito

Ironia aconteceu na cidade de Chemnitz, na Alemanha, onde o banco Sparkasse Chemnitz criou cartões da Mastercard com o busto do teórico

  
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Cartão de crédito com a estampa de Karl Marx
 Karl Marx: filósofo alemão estampa cartão de crédito da Mastercard

O filósofo alemão Karl Marx, fundador das bases teóricas do comunismo, quem diria, virou estampa de um grande símbolo do capitalismo, o cartão de crédito.
A ironia aconteceu na cidade de Chemnitz, no centro-leste da Alemanha, onde o banco Sparkasse Chemnitz, criou um cartão cuja ilustração é um busto de Marx, construído em 1953.

A imagem foi escolhida em uma votação popular pela internet, e teve na disputa 10 importantes instalações da cidade. A mais votada estamparia o cartão de crédito, da bandeira Mastercard.

O busto de Marx venceu com 35% dos votos, à frente de castelos da Idade Média, e do escudo de um time de futebol da região.

Marx não é o único líder comunista a virar personagem de propaganda. O argentino Che Guevara, um dos principais nomes da Revolução Cubana, na década de 50, hoje estampa desde biquinis até camisetas, e sua icônica imagem, feita pelo fotógrafo Alberto Korda em 1960, chegou a ser usada - não sem grande polêmica - em uma apresentação da Mercedes-Benz no início deste ano.


 Brasileiro é eleito melhor professor do ano nos EUA

13 de julho de 2012 12h52 atualizado às 13h39

O brasileiro Alexandre Lopes foi eleito o melhor professor da Flórida. Foto: Reprodução O brasileiro Alexandre Lopes foi eleito o melhor professor da Flórida
Foto: Reprodução

O brasileiro Alexandre Lopes, 43, foi eleito o melhor professor do ano no Estado da Flórida, nos Estados Unidos, por seu trabalho com crianças com necessidades especiais. Lopes dá aulas no pré-primário na cidade de Carol, próximo a Miami. As informações são do jornal Miami Herald.

Lopes venceu o prêmio na noite dessa quinta-feira, 12, em cerimônia realizada em Orlando. Ele recebeu US$ 10 mil e uma viagem para Nova York. De acordo com o jornal, ao receber a premiação o brasileiro declarou que "não havia palavras para descrever o tamanho do amor pela profissão".

Ele lidera um projeto chamado "Learning Experience: Alternative Program" (A Experiência de Aprender - Programa Alternativo, em tradução livre), conhecido como LEAP. Em seu método, ele utiliza danças e músicas para se comunicar com as crianças. Grande parte de seus alunos são autistas ou não conseguem falar.

Alexandre concorreu com mais de 180 mil professores da Flórida para ganhar o prêmio. Atualmente, o brasileiro faz doutorado em Educação Especial na Universidade Internacional da Flórida.

O internauta Flávio Duarte, do Rio de Janeiro (RJ), participou do vc repórter, canal de jornalismo participativo do Terra. Se você também quiser mandar fotos, textos ou vídeos, clique aqui.

Fonte: TERRA

domingo, 27 de maio de 2012

Resposta de uma professora à revista VEJA


"Quando as pessoas temem o governo, isso é tirania. Quando o governo teme as pessoas, isso é liberdade"
(Thomas Jefferson)



Alô, Professores!!!
Resposta à revista VEJA ... PARABÉNS !

Abaixo estou enviando uma cópia da carta escrita por uma professora que trabalha  no Colégio
Estadual Mesquita, à revista Veja.
Vale a pena ler.

Sou professora do Estado do Paraná e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima na revista Veja, “Aula Cronometrada”.

É com grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS razões que  geram este panorama desalentador.

Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas  para diagnosticar as falhas da
educação.
Há necessidade de todos os que pensam que: “os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital” entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira.

Que alunos são esses “repletos de estímulos” que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridos na era digital?

Em que pais de famílias oriundas da pobreza  trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos  em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida?

Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas brasileiras.

Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que lhes são impostas.

Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola.
Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e
avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores, e não cumprir as obrigações fossem escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje “repletos de estímulos”.

Estímulos de quê? De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, (quando o têm), brincando no Orkut, ou, o que é ainda pior, envolvidos nas drogas.
Sem disciplina seguem perdidos na vida. Realmente, nada está bom.  Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina.

Rememorando, o que tínhamos nós, os mais velhos,  há uns anos atrás de estímulos?
Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria.
Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida.
Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais.
Para quê o estudo?
Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens?
Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos, de ir aos piqueniques, subir em árvores?
E, nas aulas, havia respeito, amor pela Pátria..
Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos ler,
escrever e fazer contas com fluência.
Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série.
Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão.
E tínhamos motivação para isso.

Hoje, professores “incapazes” dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes resulta em uma revolução), levam alunos à biblioteca e a outros locais educativos (benza, Deus, só os mais corajosos!) e, algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até a "passeios interessantes", planejados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero.

E, mesmo, assim, a indisciplina está presente, nada está bom.

Além disso, esses mesmos professores “incapazes”, elaboram atividades escolares como
provas, planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração;

Todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados.


Professores têm 10 minutos de intervalo, quando têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho.

Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um
lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40h semanais. E a saúde?

É a única profissão que conheço que embora apresente atestado médico tem que repor
as aulas.

Plano de saúde?    Muito precário.
Há de se pensar, então, que  são bem remunerados... Mera ilusão!
Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente
gostam de ensinar, os que estão aposentando-se e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de “cair fora”.

Todos devem ter vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que se esforcem
em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de “vaca”,”puta”, “gordos “, “velhos”
entre outras coisas.

Como isso é motivante...e temos ainda que ter forças para motivar.
Mas, ainda não é tão grave.

Temos notícias, dia-a-dia,  até de agressões a professores por alunos.
Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus pais e familiares.
Lembro de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país
sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo limite.
E acho que esse grau já ultrapassou.
Chega de passar alunos que não merecem.
Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com indisciplina... E isso é um crime!

Vão passando série após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples.
Depois a sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça.
Ela é cruel e eles já são adultos.

Por que os alunos do Japão estudam?
Por que há cronômetros?
Os professores são mais capacitados?
Talvez, mas o mais importante é  porque há disciplina.
E é isso que precisamos e não de cronômetros.

Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados.
Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente estudando e aprimorando-se.

Em vez de cronômetros, precisamos de carteiras escolares, livros, materiais, quadras
esportivas cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de lousas, sim, em
melhores condições e em maior quantidade..

Existem muitos colégios nesse Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos se sentarem.
E é essa a nossa realidade!
E, precisamos, também, urgentemente de educação para que tudo que for fornecido ao aluno
não seja destruído por ele mesmo.

Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de chamada, à mão: sem erros, nem borrões  (ô, coisa arcaica!), e ainda assim se ouve falar em cronômetros. Francamente!!!

Passou da hora de todos abrirem os olhos  e fazerem algo para evitar uma calamidade no país, futuramente.
Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os professores  até agora  não responderam a todas as acusações de
serem despreparados e  “incapazes” de prender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO.

Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.

Vamos
começar uma corrente nacional que pelo menos dê aos professores
respaldo legal quando um aluno o xinga, o agride... chega de ECA que não
resolve nada, chega de Conselho Tutelar que só vai a favor da criança e
adolescente (capazes às vezes de matar, roubar e coisas piores), chega
de salário baixo, todas as profissões e pessoas passam por professores,
deve ser a carreira mais bem paga do país, afinal os deputados que
ganham 67% de aumento tiveram professores, até mesmo os "alfabetizados
funcionais".


Pelo amor de Deus somos uma classe com força!!!
Somos politizados, somos cultos, não precisamos fechar escolas, fazer greves,
vamos apresentar um projeto de Lei que nos ampare e valorize a
profissão.




Vanessa Storrer - professora da rede Municipal de Curitiba!

terça-feira, 22 de maio de 2012

Salário de professor é 59% ao de outras áreas

Salário de professor é 59% ao de outras áreas

Diferença salarial do profissional da rede estadual chega a 182% se comparada a um engenheiro civil Rodrigo Machado

rodrigo.machado@diariosp.com.br


Estudos realizados com base no Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que a média salarial dos professores da educação básica no Brasil equivale hoje a 59% da de outros profissionais com nível superior como  engenheiro civil e médico, que são os melhores remunerados, segundo o ranking. Há 10 anos a diferença era de 49%.

Em São Paulo, o abismo do vencimento salarial do profissional da rede estadual chega a 182%, se comparado ao de um engenheiro civil (R$ 5.620). Para o professor da Prefeitura, a diferença cai para 116%.

Apesar do avanço, o censo revela que as carreiras que levam ao magistério seguem sendo as de pior desempenho. Pagar melhor aos professores, no entanto, é uma política que, além de cara, tende a trazer retorno apenas a longo prazo em termos de qualidade, segundo o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, Roberto Franklin de Leão. Ele afirma  que a baixa atratividade é reflexo da falta de investimento, plano de carreira e incentivos para atrair novos profissionais. “O salário é fundamental, mas não o suficiente para melhorar a qualidade do ensino”, argumenta.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) elevou o salário-base da categoria para R$ 1.988,33, valor superior ao piso nacional atual (R$ 1.451) para 40 horas/aula semanais. Segundo a Secretaria de Estado da Educação, um  plano de carreira está sendo desenvolvido para mudar o atual cenário. Na rede municipal, o piso inicial de um professor (também  40 horas) era de R$ 1.215 em 2005. Hoje é de R$ 2.600. Segundo a Secretaria de Educação, os servidores contam com um plano de carreira por tempo e títulos (especialização).

Os professores do Distrito Federal recebem os maiores salários da categoria, pois o governo federal banca parte dos gastos na área. “O que falta é incentivo de todas as formas em São Paulo”, afirma Claudio Fonseca, presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de SP.

A presidente da Apeoesp  (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Maria Iszabel Azevedo Noronha, não foi encontrada até as 21h desta segunda-feira para comentar os dados.
No outro extremo/ O estudo aponta ainda que nenhuma outra área é tão vantajosa, em termos financeiros, quanto a medicina. Os médicos têm os maiores salários e a menor taxa de desemprego entre profissionais com nível superior. A média salarial é de R$ 7.150.

Apesar de algumas carreiras terem renda e desemprego maiores do que outras, as taxas são sempre melhores do que as da população sem diploma universitário. Para o professor da FGV, Kaizô Beltrão, existem também atividades em que há pessoas com diplomas de nível superior atuando em profissões que requerem do trabalhador  só o nível médio.

Plano de carreira e baixo salário são velhos problemas

Os baixos salários e a falta de plano de carreira eficiente não são novidades para os profissionais da educação básica e fundamental  de São Paulo, mas também de outras regiões do país.

O professor Carlos Alberto Pires, dá aula na rede estadual há sete anos, mas aos poucos migra para outra área de atuação.

“Essa é uma realidade que atormenta meu dia a dia. Eu dou aula em uma escola na Rodovia Raposo Tavares e levo bastante tempo para chegar. O  jeito foi pedir para reduzir as minhas aulas para eu possa me dedicar a outra atividade”, disse ele, que ganha cerca de R$ 9,12 por aula dada de biologia.

Para a professora Claudina Noronha, de uma escola na Vila Sônia, na Zona Oeste de São Paulo, a falta de uma boa remuneração faz com que a qualidade das aulas fiquem comprometidas. “Eu acho que a realidade tem de mudar o mais urgente possível”, desabafa.

domingo, 6 de maio de 2012

Túpac Amaru, o filho do sol


No fim do século 18, Túpac Amaru liderou a maior rebelião indígena da América, que incendiou o coração dos Andes e inspirou revolucionários como Bolívar e Che Guevara

Alessandro Meiguins | 01/11/2004 00h00

O mundo amanheceu ao contrário naquele dia em Tinta, um pequeno povoado no sul do vice-reino do Peru. Acostumada a ser explorada e maltratada pelas tropas do mandachuva local, o espanhol Antonio Arriaga, a população mal conseguia acreditar que era ele quem dava seus últimos suspiros, pendurado pelo pescoço na ponta de uma corda, em plena praça central do vilarejo. Ao seu lado, comandando a execução, estava José Gabriel Túpac Amaru. Vestido para a guerra, com o tradicional ornamento inca em forma de um sol dourado no peito, convocava aos berros índios, mestiços e negros para lutar contra a dominação espanhola. Naquele 4 de novembro de 1780, com o corpo de Arriaga balançando atrás de si, Túpac Amaru, descendente da linhagem imperial dos incas, declarou que não existiam mais impostos e que os escravos estavam livres. “Foi o início de uma rebelião que se espalharia pelos Andes e chegaria até os altiplanos bolivianos”, diz Julio Vera del Carpio, historiador da Casa da Cultura Peruana, em São Paulo. Quase 300 anos depois de os espanhóis desembarcarem na América, o filho do sol estava de volta.

Os espanhóis desembarcaram na América em 1492 ávidos por encontrar riquezas que financiassem seus navios, suas armas e sua nobreza. Quando chegaram ao Peru, em 1527, e descobriram as minas de prata da região, não perderam tempo. Reuniram um exército sob o comando de Francisco Pizarro e trataram de eliminar todo aquele que pudesse afastá-los de seu objetivo. Por “todo aquele” entenda-se os incas, que habitavam desde as cordilheiras no Peru até os altiplanos bolivianos. Em 1532, os espanhóis iniciaram uma conquista rápida e implacável. Com a vantagem das armas de fogo e do duro aço espanhol, submeteram os guerreiros indígenas e suas lanças de cobre. Pizarro conquistou Cusco, a capital inca, e capturou e executou Atahualpa, seu imperador. Em seguida nomeou um novo ocupante para o trono: Manco Inca Yupanqui. Pouco tempo depois, no entanto, Manco Inca percebeu que estava sendo usado pelos espanhóis e fugiu de Cusco, iniciando uma revolta. A aventura durou pouco: os espanhóis mataram Manco Inca e seus sucessores. O último foco de resistência foi derrotado em 1572, com o enforcamento do derradeiro imperador inca, o primeiro Túpac Amaru (foram vários “Túpacs”). Foi o ponto final na civilização inca na América do Sul, “que ocupou um território maior que o do Império Romano”, diz Antonio Núnez Jiménez, no livro Nuestra América. A partir desse momento, seus mais de 3 milhões de habitantes tinham um novo senhor.

A primeira coisa que os novos donos do pedaço fizeram foi estabelecer a “mita” – o trabalho forçado nas minas de prata e mercúrio. “Os índios eram convocados pelos espanhóis, arrastados a pé através dos vales montanhosos e muitos morriam exauridos no caminho”, diz Carpio. “Quando chegavam, tinham um breve descanso e, um ou dois dias depois, entravam nos estreitos buracos na terra em busca dos metais. Poucos sobreviviam por muito tempo às longas jornadas de trabalho, que chegavam a uma semana inteira dentro das minas, sem direito a alimentos ou descanso.” A Igreja teve papel especial nessa história. Extremamente religiosos, os incas foram levados a crer que o rei da Espanha substituíra seu imperador no lugar reservado ao representante divino na Terra. Servir ao rei era como trabalhar para o próprio Deus-sol e ao morrer nas minas de prata estavam salvando suas almas do inferno.

Segundo Carpio, nas províncias os corregedores (espécie de prefeitos) tinham toda a liberdade para matar quantos índios fossem necessários para que a extração de prata continuasse a todo vapor. No entanto, em 200 anos de dominação, os espanhóis não eliminaram completamente as lideranças indígenas. Pelo contrário, parte do controle sobre a população era feita com o consentimento e apoio desses líderes – chamados de curacas, descendentes da nobreza inca. Convertidos ao catolicismo, muitos, inclusive, recrutavam membros das tribos para o trabalho forçado nas minas.

Descendente do primeiro Túpac, José Gabriel Túpac Amaru era um dos líderes que discordavam dessa prática. Curaca de Pampamarca, Tungasuca e Surimana, morava na província de Tinta, a 100 quilômetros de Cusco. Túpac herdou de sua família 70 pares de mulas, com as quais transportava mercadorias através dos Andes. No meio daquela região montanhosa, ter um par de mulas era como ter um caminhão. Túpac era próspero, respeitado e bem relacionado. Insatisfeito com o que via na região, defendia junto às autoridades espanholas uma reforma no sistema colonial. Aos tribunais de Lima encaminhara um pedido oficial em que pediu a eliminação do cargo do corregedor, substituindo-o por prefeitos eleitos nas províncias e povoados, e o fim da mita. Nada conseguiu. Aos poucos, passou a espalhar a idéia de rebelião. Em uma carta aberta à população, dizia que os corregedores faziam do sangue dos peruanos “sustento para sua vaidade”. Conseguiu a simpatia e apoio de alguns curacas, que se dispuseram a lutar.

Tinta foi apenas o primeiro alvo da revolta. Após matar Arriaga, Túpac e seus homens percorreram povoados e vilas da região, prendendo e enforcando as autoridades espanholas que encontravam. Ficavam com seu dinheiro e armas e distribuíam seus bens entre a população. Túpac nomeou chefes locais e conseguiu que milhares de pessoas aderissem à sua tropa. Aterrorizado com a rapidez com que a revolta se espalhava, o bispo de Cusco, Juan Manuel de Moscoso y Peralta, enviou 1 500 soldados para eliminar o rebelde. Em 18 de novembro, no povoado de Sangarara, entre Cusco e Tinta, Túpac enfrentou o exército do rei com 6 mil homens sob seu comando. Em menos de um dia o inca cercou os soldados do bispo. Depois de intensos combates, o último grupo de espanhóis se refugiou na igreja do povoado, esperando que o indígena poupasse o local sagrado. Túpac não quis saber: invadiu a igreja e matou todos. Em represália, Moscoso y Peralta excomungou Túpac Amaru e seus seguidores. Essa era a maior desonra que alguém poderia sofrer na época. Tanto para católicos quanto para indígenas, a excomunhão significava que a pessoa estava distante de Deus. O efeito da punição logo se fez sentir. “Por conta disso, numerosos adeptos da causa tupamarista abandonaram suas fileiras ou deixaram de nelas ingressar”, afirma Kátia Baggio, historiadora da Universidade Federal de Minas Gerais.

Túpac se preparou para invadir Cusco. A estratégia era tomar Puno, que ficava entre Cusco e Potosí, para depois avançar sobre a capital. No entanto, após os eventos em Sangarara, o vice-rei do Peru, Agustín de Jáuregui, resolveu pedir auxílio à Espanha. Se as tropas do rei Carlos III chegassem ao Peru, a rebelião não teria chance, por isso o inca adiantou seus planos. Cusco era uma verdadeira fortaleza. Cercada de grandes muralhas de pedra, a antiga capital do império inca tinha uma rígida planificação urbana em forma quadriculada, cujo desenho lembrava a forma de um puma. As tropas da cidade partiram em direção aos rebeldes, para conter sua chegada, enquanto mais soldados preparavam a defesa. Muitos curacas católicos, junto com suas tribos, se mostraram fiéis à Igreja e ao rei da Espanha, e ajudaram os europeus a montar uma estratégia para conter os rebeldes. O clima de agitação e expectativa diante da iminente invasão levou a cidade ao caos.

Em 28 de dezembro de 1780, Túpac chegou ao limite norte de Cusco, uma região chamada Cerro Picchu. Seguiam com ele mais de 40 mil homens, embora poucos estivessem armados e preparados para a luta. Seus planos contavam com um ataque vindo do nordeste, por Diego Cristóbal, irmão de Túpac, e com a adesão da população indígena local. Em 2 de janeiro de 1781 os combates começaram. Por dias as tropas do vice-rei, cerca de 12 mil homens, conseguiram manter os invasores afastados da cidade, tempo suficiente para receberem um reforço de 8 mil homens, seis canhões e 3 mil fuzis vindos de Lima. Os rebeldes, ao contrário, viram seus planos falharem. Diego Cristóbal não conseguiu ultrapassar as defesas espanholas do rio Urubamba e recuou. O policiamento ostensivo nas ruas de Cusco reprimiu qualquer tentativa local de sublevação. Em 8 de janeiro, Túpac fez uma tentativa desesperada e atacou a cidade com força total. A violenta batalha durou cerca de sete horas, mas as defesas se mantiveram praticamente intactas e os realistas tiveram poucas baixas.

Túpac desistiu do cerco e se aquartelou em Tinta. Em março, com o reforço de 17 mil soldados espanhóis, as tropas do vice-rei resolveram sufocar de vez a rebelião. Em 5 de abril, os espanhóis infligiram uma gigantesca derrota às tropas tupamaristas. Depois de um dia de combates, ofereceram perdão àqueles que abandonassem Túpac e se unissem a eles. No dia seguinte, cercaram o exército rebelde e conseguiram outra grande vitória, graças a informações entregues por traidores do exército inca. Os rebeldes se dispersaram e fugiram da cidade, mas Túpac e seus colaboradores mais próximos foram presos em um emboscada preparada por seus próprios partidários. Apenas uma pequena parte do exército rebelde conseguiu se refugiar nas montanhas. Na mesma semana, para comemorar sua vitória, os espanhóis enforcaram 70 curacas rebeldes na mesma praça onde o corregedor Arriaga perecera.

Túpac e sua família foram levados a Cusco, onde foram torturados para que dessem informações sobre os demais líderes rebeldes, como Diego Cristóbal, que conseguira fugir. “Diz a tradição que, sem ter como se comunicar com seus companheiros, Túpac escreveu uma carta com seu próprio sangue, em um pedaço de suas vestes, convocando todos para a luta, mas a mensagem acabou interceptada pelos espanhóis”, diz o antropólogo Rodrigo Montoya, da Universidade San Marcos, em Lima. Após 35 dias de torturas, em 18 de maio de 1871 Tupac foi levado para receber sua sentença em praça pública, no centro de Cusco: esquartejamento. Antes que a pena fosse aplicada, no entanto, Túpac assistiu ao enforcamento de seus homens rebeldes. Depois, dois filhos seus, Hipólito e Fernando, junto com Micaela, sua mulher, tiveram suas línguas cortadas, antes de serem executados. Enfim chegou sua vez. “Seus braços e pernas foram atados a quatro cavalos, que foram incitados a correrem cada um para uma direção”, diz Carpio. “Depois do insucesso de várias tentativas, os espanhóis desistiram do esquartejamento e cortaram a cabeça do inca.”

A rebelião no Alto Peru, no entanto, não acabou aí. Prosseguiu em duas frentes. Sob a liderança de Túpac Catari, cujo verdadeiro nome era Julián Apasa, e que adotou o apelido em alusão a Túpac Amaru e Tomás Catari, outro líder revolucionário morto pelos espanhóis na Bolívia, a revolta chegou a La Paz. Catari cercou a cidade em março de 1781, com mais de 10 mil homens, e fez um violento ataque em que mais de 10 mil morreram – sendo 8 mil indígenas. Após 109 dias de sítio as tropas realistas furaram o cerco. Catari voltou a atacar em agosto, mas foi derrotado e preso. Em 31 de novembro de 1781 foi executado.
A segunda onda de resistência se deu na região montanhosa em torno de Cusco, onde Diego Cristóbal continuou comandando o então reduzido exército de Túpac. Em maio de 1781, ele chegou a sitiar Puno, mas não a invadiu. Focos de conflito continuaram até 1782, quando Diego Cristóbal assinou um tratado de paz com os espanhóis. Apesar disso, depois de uma ameaça de levante em 1783, Diego e 120 supostos envolvidos acabaram executados.

Nos anos que se seguiram, os colonizadores exerceram uma forte repressão à cultura incaica e qualquer ornamento da nobreza inca foi proibido. “Falar o nome de Túpac Amaru em público virou um insulto aos espanhóis, um ato de rebeldia. A perseguição, no entanto, só aumentou o mito que se criou em torno dele e fez com que seus lendários feitos influenciassem gerações de revolucionários americanos, de Bolívar a Che Guevara”, diz Montoya. O poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), em um verso de 1970, recordou Túpac “Como um sol vencido/ uma luz desaparecida.../ Túpac germina na terra americana”.